Poesia que vovô Alípio Alcides de Carvalho escreveu quando viajava da Bahia para Carolina pelo Rio São Francisco até alcançar a nascente do rio do Sono.
Esta poesia foi escrita dia 7 de abril de 1914, quase 100 anos atrás, mas seu conteúdo ainda permanece atual e verdadeiro.
À minha saudosa esposa Rosinha,
Com o coração transido por acerba e pungente saudade te dedico estes toscos versos.
Acolhe-os com carinho, minha santa companheira, se não pelo valor literário, ao menos por terem brotado do fundo do meu coração, do íntimo de minha alma.
Quis cantar e só me foi possível um lamento.
A bordo do vapor Antônio Olinto, subindo o Rio Preto – Bahia, em 7 de abril de 1914.
Teu marido,
Alípio Carvalho
Longe de ti, mulher a quem adoro,
Suspiro e choro de saudade e dor,
Já me fenece da esperança a vida,
Como a esquecida e estiolada flôr.
Geme meu peito, quando ouço um canto,
Corre meu pranto se o prazer existe,
Tudo são gozos, mas me sinto só,
Ninguém tem dó, e minha alma é triste.
Entre rumor da humana vaga,
Que o bonde rasga na rua rolando,
Eu atordido e alheio a tudo,
Vou triste e mudo a esmo vagando.
Vôa nos trilhos o titan garboso,
Tempestuoso turbilhão do bem
Sinto entre estranhos, do deserto a calma,
O ermo n’alma, no coração também
Pensando em ti, eu cismo sonhando,
A noite quando ao pungir das mágoas,
Baço o luar - O vapor potente
Sulca ascendente as tranqüilas águas.
Desliza mansa e serena a balsa,
A brisa passa e beija a flôr fremente
E eu vou triste, como a emurchecida
Pétala, caída na voraz corrente.
O sol derrama, em ondas de amor,
vida e calor, no universo o gôso,
Mas eu sou triste qual rola amorosa
Carpe chorosa, e perdido esposo.
Cobrem-se os prados de ardentes flores,
Santos amores, perfumados os ninhos,
E eu sou triste qual goivo pendido,
Murcho, perdido, no pó dos caminhos.
Oh! Tu não sabes, minha flor mimosa,
Dileta rosa do jardim do lar,
Longe de ti, o quanto hei sofrido.
Como vivido sem desesperar.
Só a esperança da volta ao casal,
É meu fanal e me alimenta a vida,
Reviverei da prole, no meio,
Quando em teu seio eu me estreitar querida.
(O vovô compôs também a música para este poema)
Copiado por Loló
Em 02de agosto de 1977.
Atualizei alguns dados de algumas árvores.